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estremeceu. Era uma honra, na verdade, mas tambem um perigo, porque ninguem como elle, acostumado ao grande jogo de Lisboa e Cascaes, para abafar uma banca logo á primeira. O baralho tremeu-lhe entre os dedos ao dar cartas ao visinho.

Mas o conselheiro não jogou e um sorrisinho de alivio veio desfranzir-lhe os beiços e mostrar os dentes apodrecidos. Já fallava, já ria dos pontos que iam perdendo pequenas paradas, e pagava sem regatear ás senhoras.

— «Jógo! — disse do outro lado da meza a mulher do Maximiano, que estendia sobre o panno verde as mãos cheias d’anneis de brilhantes.

— «O sr. conselheiro não jóga no jogo da sr.ᵃ D. Maria Adelaide? perguntou o Motta, cortez.

— «Eu tópo — insistiu ella seccamente — tire carta.

O banqueiro mordeu os beiços despeitado e começou a puxar as cartas, vagaroso, muito molle, como se lhe estivessem colladas aos dedos.

— «Perdi, quanto é? — disse atirando o seu jogo á meza e olhando com simulada indifferença para as mãos lampejantes que se entretinha a revirar para mostrar o brilho dos anneis.

— «São vinte e cinco mil réis, fóra estes miudos que não vale a pena contar.

O tabellião fazia de generoso, não cabendo na pelle de regosijo.

— «Conte tudo — ordenou orgulhosamente, para mostrar á pelintrice provinciana como se joga no grande mundo.