Página:Amor de Perdição (1862).pdf/106

Wikisource, a biblioteca livre

— Serei com muito gosto, se o pae quizer.

— Pois então, moça, se hás de ir costurar para a varanda, vem aqui para a beira do senhor Simão. Dá-lhe caldos a miudo; e trata-lhe da ferida; vinagre e mais vinagre, quando ella estiver assim a modo de roixa. Conversa com elle, não o deixes estar a malucar, nem escrever muito, que não é bom quando se está fraco do miôlo. E v. s.^a não tenha aquellas de ceremonia, nem me diga a Marianna — a menina isto, a menina aquillo. É — rapariga dá cá um caldo; rapariga, lava-me o braço, dá cá as compressas — e nada de politicas. Ella está aqui como sua criada, porque eu já lhe disse que, se não fosse o pae de v. s.^a, já ella ha muito tempo que andava por ahi ás esmolas, ou peor ainda. É verdade que eu podia deixar-lhe uns bensinhos, ganhos alli a suar na bigorna ha dez annos, afóra uns quatrocentos mil reis que herdei de minha mãe, que Deus haja; mas v. s.^a bem sabe que, se eu fosse á forca ou pela barra fóra, vinha a justiça, e tomava conta de tudo para as custas.

— Se vocemecê tem uma casinha soffrivel — atalhou Simão — póde, querendo, casar a sua filha n’uma boa casa de lavoira.

— Assim ella quizesse. Maridos não lhe faltam; até o alferes da igreja a queria, se eu lhe fizesse doação de tudo, que pouco é, mas ainda vale quatro mil cruzados bons; o caso é que a moça não tem querido casar, e eu, a fallar a verdade, sou só e mais ella, e tambem não tenho grande vontade de ficar