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para o Japão. Agora creio que ha, porque me dizem que ha tudo.

Pois eu já lhes fiz saber, leitores, pela bôca de mestre João, que o filho do corregedor não tinha dinheiro. Agora lhes digo que era em dinheiro que elle scismava quando Marianna lhe trouxe o caldo rejeitado.

A meu vêr, deviam attribulal-o estes pensamentos:

Como pagaria a hospitalidade de João da Cruz?

Com que agradeceria os desvelos de Marianna?

Se Thereza fugisse, com que recursos proveria á subsistencia de ambos!

Ora, Simão Botelho sahira de Coimbra com a sua mesada, que não era grande, e quasi lh’a absorvêra o aluguel da cavalgadura, e a groseta generosa que déra ao arreeiro, a quem devia o conhecimento do prestante ferrador.

As reliquias d’esse dinheiro déra-as elle á portadora da carta n’aquelle dia. Má situação!

Lembrou-se de escrever á mãe. Que lhe diria elle? Como explicaria a sua residencia n’aquella casa? D’este modo não iria elle dar indicios da morte mysteriosa dos dois criados de Balthazar Coutinho?

Além de que, sobejamente sabia elle que sua mãe o não amava; e, a mandar-lhe algum dinheiro em segredo, seria escassamente o necessario para a jornada até Coimbra. Péssima situação!

Cansado de pensar, favoreceu-o a providencia dos infelizes com um somno profundo.