Página:Amor de Perdição (1862).pdf/127

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no páteo do convento esperando a esmola de Thereza; mas cuidaram que era aquella pobre uma devoção da menina. As palavras ironicas da escrivã foram commentadas, e a mendiga recebeu ordem de sahir da portaria. Thereza, n’um impeto de angustia, quando tal soube, correu a uma janella, e chamou a pobre, que se retirava assustada, e lançou-lhe ao pateo um bilhete com estas palavras: «É impossivel a nossa correspondencia. Vou ser tirada d’aqui para outro convento. Espera em Coimbra noticias minhas.» Isto foi rapidamente ao conhecimento da prioreza, e logo, ás ordens d’ella, partiu o hortelão no encalço da pobre. O hortelão seguiu-a até fóra de portas, espancou-a, tirou-lhe o bilhete, e foi do convento apresental-o a Thadeu de Albuquerque. A mendiga não retrocedeu; caminhou a casa do ferrador, e contou a Simão o acontecido.

Simão lançou-se fóra do leito, e chamou João da Cruz. N’aquelle aperto queria ouvir uma voz, queria poder chamar amigo a um homem, que lhe estendesse mão capaz de apertar o cabo d’um punhal. O ferrador ouviu a historia, e deu o seu voto: «esperar até vêr». Simão repelliu a prudencial frieza do confidente, e disse que partia para Vizeu immediatamente.

Marianna estava alli; ouvira a confidencia, e achára acertada a opinião de seu pae. Vendo, porém, a impaciencia do hospede, pediu licença para fallar onde não era chamada, e disse: