Página:Amor de Perdição (1862).pdf/129

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a ponto de rasgal-a, cuidando que iria tarde, ou não lhe chegaria ás mãos. N’este conflicto de contrarios projectos, entrou Marianna, e muito allucinado devia de estar Simão para lhe não dar fé das lagrimas.

O que tu soffrias, nobre coração de mulher pura! Se o que fazes por esse moço é gratidão ao homem que salvou a vida de teu pae, que rara virtude a tua! Se o amas, se por lhe dar allivio ás dôres, tu mesma lhe desempeces o caminho por onde te elle ha de fugir para sempre, que nome darei á tua virtude! que anjo te fadou o coração para a santidade d’um obscuro martyrio!

— Estou prompta, disse Marianna.

— Aqui tem a carta, minha boa amiga. Faça muito por não vir sem resposta — disse Simão, dando-lhe com a carta um embrulho de dinheiro.

— E o dinheiro também é para a senhora? — disse ella.

— Não, é para si, Marianna: compre um annel.

Marianna tomou a carta, e voltou rapidamente as costas, para que Simão lhe não visse o gesto de despeito, se não desprêso.

O academico não ousou insistir, vendo-a apressar-se na descida para o quinteiro, onde o ferrador enfreava a egua.

— Não lhe chegues muito com a vara — disse João da Cruz a Marianna, que, d’um pulo, se assentou no albardão, coberto d’uma colxa escarlate. — Tu vaes amarella