Página:Amor de Perdição (1862).pdf/16

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Á margem esquerda d’este assento está escripto:

 

Foi para a India em 17 de Março de 1807.

 

Não será fiar demasiadamente na sensibilidade do leitor, se cuido que o degredo de um moço de dezoito annos lhe havia de fazer do. Dezoito annos! O arrebol dourado e escarlate da manhã da vida! As louçanias do coração que ainda não sonha em fructos, e todo se embalsama no perfume das flores! Dezoito annos! O amor d’aquella idade! A passagem do seio da familia, dos braços de mãe, dos beijos das irmās para as caricias mais doces da virgem, que se lhe abre ao lado como flor da mesma sazão e dos mesmos aromas, e á mesma hora da vida! Dezoito annos!... E degradado da patria, do amor, e da familia! Nunca mais o ceo de Portugal, nem liberdade, nem irmãos, nem mãe, nem rehabilitação, nem dignidade, nem um amigo!... É triste!

O leitor de certo se compungia; e a leitora se lhe dissessem, em menos de uma linha, a historia d’aquelles dezoito annos, choraria! Pois não? A olhos enchutos poderia ouvil-a a mulher, a creatura mais bem formada das branduras da piedade, a que por