Página:Amor de Perdição (1862).pdf/166

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A mãe escrevia aos seus parentes da capital, implorando graça regia para o filho; mas aquellas cartas não sahiam do correio, e iam dar todas á mão de meu pae.

E que fazia este, entretanto, na quinta, sem familia, sem gloria, nem recompensa alguma a tantas faltas? Rodeado de jornaleiros, cultivava aquelle grande montado, onde ainda hoje por entre os tojos e urzes que voltaram com o abandono, se podem vêr reliquias das cêpas plantadas por elle. A mãe escrevia-lhe lastimando o filho; meu pae apenas respondia que a justiça não era uma brincadeira, e que na antiguidade os proprios paes condemnavam os filhos criminosos.

Teve minha mãe a affoiteza de se lhe apresentar um dia, pedindo licença para ir a Vizeu. Meu inexoravel pae negou-lh’a, e invectivou-a furiosamente.

Passados sete mezes, soubemos que Simão tinha sido condemnado a morrer na forca, levantada no local onde fizera a morte. Fecharam-se as janellas por oito dias; vestimos todas de lucto, e minha mãe cahiu doente.

Quando se isto soube em Villa Real, todas as pessoas illustres da terra foram a Montezellos, a fim de obrigarem brandamente o pae a empregar o seu valimento na salvação do filho condemnado. De Lisboa vieram alguns parentes protestar contra a infamia que tamanha ignominia faria recahir sobre a familia. Meu