Página:Amor de Perdição (1862).pdf/179

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Não recalcitrou Thereza. Deu outro sorriso ao anjo da morte, e pediu-lhe que a envolvesse a ella, e ao seu amor, e á sua esperança, de todo, na negrura de suas azas.

De mez a mez recebia a abbadessa de Monchique uma carta de seu primo. Eram estas cartas um respiradouro da vingança. Em todas dizia o velho que o assassino iria ao patibulo irremediavelmente. A sobrinha não via as cartas; mas reparava nas lagrimas da compassiva freira.

A debil compleição de Thereza deprecia acceleradamente. A sciencia condemnou-a a morte breve. D’isto foi informado Thadeu de Albuquerque, e respondeu: «Que a não desejava morta; mas, se Deus a levasse, morreria mais tranquillo, e com a sua honra sem mancha.» Era assim immaculada a honra do fidalgo de Vizeu!... a HONRA, que dizem proceder em linha recta da virtude de Socrates, da virtude de Jesus Christo, e da virtude de milhões de martyres, que se deram ás garras das feras, quando predicavam a caridade e o perdão aos homens!

Quantas caricias inventou a sympathia e a piedade, todos, por ministerio das religiosas exemplares de Monchique, aporfiaram em refrigerar o ardor, que consumia rapidamente a reclusa. Inutil tudo. Thereza reconhecia com lagrimas a compaixão, e ao mesmo tempo alegrava-se, tirando das caricias a certeza de que os médicos a julgavam incuravel.

Alguma freira inadvertida lhe disse um dia que uma