Página:Amor de Perdição (1862).pdf/181

Wikisource, a biblioteca livre

se-me tenebrosa, porque a esperança era a luz, que me guiava de ti para a fé. Mas não póde findar assim o nosso destino. Vê se podes segurar o ultimo fio da tua vida a uma esperança qualquer. Ver-nos-hemos n’um outro mundo, Simão? Terei eu merecido a Deus contemplar-te? Eu rezo, supplíco; mas desfalleço na fé, quando me lembram as ultimas agonias do teu martyrio. As minhas são suaves, quasi que as não sinto. Não deve custar a morte a quem tiver o coração tranquillo. O peor é a saudade, saudade d’aquellas esperanças que tu achavas no meu coração adivinhando as tuas. Não importa, se nada ha além d’esta vida. Ao menos, morrer é esquecer. Se tu podesses viver agora, de que te serviria? Eu tambem estou condemnada, e sem remedio. Segue-me, Simão! não tenhas saudades da vida, não tenhas, ainda que a razão te diga que podias ser feliz se me não tivesses encontrado no caminho por onde te levei á morte... E que morte, meu Deus!... Aceita-a! não te arrependas. Se houve crime, a justiça de Deus te perdoará pelas angustias que tens de soffrer no carcere... e nos ultimos dias, e na presença da...»

Thereza ia escrever uma palavra, quando a penna lhe cahiu da mão, e uma convulsão lhe vibrou todo o corpo por largo espaço. Não escreveu a palavra; mas a ideia de forca parou-lhe a vida. A freira entrou na cella a pedir-lhe a carta, porque o correio ia partir. Thereza, indicando-lh’a, disse: