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Thadeu de Albuquerque sahiu em corcovos do atrio do mosteiro. Era hedionda aquella raiva que lhe contrahia as faces incorreadas, revendo suor e sangue aos olhos acovados.

Apresentou-se ao intendente da policia, pedindo providencias para que se lhe entregasse sua filha. O intendente respondeu que não solicitava competentemente taes providencias. Instou para que o carcereiro da cadêa não deixasse sahir alguma carta de um assassino, vindo da comarca de Vizeu, por nome Simão Botelho. O intendente disse que não podia, sem motivos concernentes a devassas, obstar a que o prêso escrevesse a quem quer que fosse.

Reduplicada a furia, foi d’ali ao corregedor do Porto, com os mesmos requerimentos em tom arrogante. O corregedor, particular amigo de Domingos Botelho, despediu com enfado o importuno, dizendo-lhe que a velhice sem juizo era coisa tão de riso como de lastima. Esteve então a pique de perder-se a cabeça de Thadeu de Albuquerque. Andava e desandava as ruas do Porto, sem atinar com uma sahida digna da sua prosapia e vingança. No dia seguinte bateu á porta d’alguns desembargadores, e achava-os mais inclinados á clemencia, que á justiça, a respeito de Simão Botelho. Um d’elles, amigo de infancia de D. Rita Preciosa, e implorado por ella, fallou assim ao sanhudo fidalgo:

— Em pouco está o ser homicida, senhor Albuquerque.