— Vendi-as, porque não faço tenção de lá voltar.
— Não faz?... Para onde ha de ir Marianna, indo eu degredado? Fica no Porto?
— Não, senhor, não fico — balbuciou ella como admirada d’esta pergunta, á qual o seu coração julgava ter respondido de muito.
— Pois então!
— Vou para o degredo, se v. s.^a me quizer na sua companhia.
Fingindo-se surprendido, Simão seria ridiculo aos seus proprios olhos.
— Esperava essa resposta, Marianna, e sabia que me não dava outra. Mas sabe o que é o degredo, minha amiga?
— Tenho ouvido dizer muitas vezes o que é, senhor Simão... É uma terra mais quente que a nossa; mas tambem lá ha pão, e vive-se...
— E morre-se abrazado ao sol doentio d’aquelle ceu, morre-se de saudades da patria, morre-se muitas vezes dos maus tratos dos governadores das galés, que tem um condemnado na conta de féra.
— Não ha de ser tanto assim. Eu tenho perguntado muito por isso á mulher d’um prêso que cumpriu dez annos de sentença na India, e viveu muito bem em uma terra chamada Solor, onde teve uma loja; e, se não fossem as saudades, diz ella que não vinha, porque lhe corria melhor por lá a vida que por cá. Eu, se fôr por vontade do senhor