Página:Amor de Perdição (1862).pdf/253

Wikisource, a biblioteca livre

a existencia tão saudavel como ella é na Asia. Não o intimide a ideia do degredo, senhor Simão. Viva, faça por vencer-se, e será feliz!

— O seu silencio, por piedade, senhor... — atalhou o degredado.

— Bem sei que é cêdo ainda para planisar futuros. Desculpe á sympathia, que me inspira, a indiscrição. Mas aceite um amigo n’esta hora atribulada.

— Aceito, e preciso d’elle.... Marianna! — chamou Simão — Venha aqui, se este cavalheiro o permitte.

Marianna entrou no quarto.

— Esta mulher tem sido a minha providencia — disse Simão — Porque ella me valeu, não senti a fome em dois annos e nove mezes de carcere. Tudo que tinha vendeu para me sustentar e vestir. Aqui vai comigo esta creatura. Seja respeitavel aos seus olhos, senhor, porque ella é tão pura como a verdade o deve ser nos labios d’um moribundo. Se eu morrer, senhor commandante, aceite o legado de a amparar com a sua caridade como se ella fosse minha irmã. Se ella quizer voltar á patria, seja o seu protector na passagem. — E estendendo-lhe a mão, disse com transporte: — Promette-me isto, senhor?

— Juro-lh’o.

O commandante, obrigado a subir ao tombadilho, deixou Simão com Marianna.

— Estou tranquillo pelo seu futuro, minha amiga.

— Eu já o estava, senhor Simão — respondeu ella.