Página:Amor de Perdição (1862).pdf/49

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sociando com a infima vilanagem d’esta terra? Não viu os seus criados com as cabeças quebradas pelo tal varredor de feiras? Não lhe constou que elle, em Coimbra, abarrotado de vinho, andava pelas ruas armado como um salteador de estradas, proclamando á canalha a guerra aos nobres, e aos reis, e á religião de nossos paes? A prima ignoraria isto por ventura?

— Ignorava parte d’isso, e não me afflige o sabêl-o. Desde que conheci Simão, não me consta que elle tenha dado o menor desgosto á sua familia, nem ouço fallar mal d’elle.

— E está por isso persuadida de que Simão deve ao seu amor a reforma de costumes?

— Não sei, nem penso n’isso — replicou com enfado Thereza.

— Não se zangue, prima. Vou-lhe dizer as minhas ultimas palavras: eu hei de, em quanto viver, trabalhar para salval-a das garras de Simão Botelho. Se seu pae lhe faltar, fico eu. Se as leis a não defenderem dos ataques do seu demonio, eu farei vêr ao valentão que a victoria sobre os aguadeiros não o poupa ao desgosto de ser levado a pontapés para fóra da casa de meu tio Thadeu d’Albuquerque.

— Então o primo quer-me governar? — atalhou ella com desabrida irritação.

— Quero-a dirigir em quanto a sua razão precisar de auxilio. Tenha juizo, e eu serei indifferente ao seu destino. Não a enfado mais, prima Thereza.