Página:Amor de Perdição (1862).pdf/63

Wikisource, a biblioteca livre

teve a sinceridade de responder que não tinha reparado na frieza de seu primo, e chamou para junto d’ella uma menina, para evitar que a montanha se abrisse em vulcões. Pouco depois ergueu-se, e sahiu da sala.

Eram dez horas e tres quartos. Thereza corrêra ao fundo do quintal, abrira a porta, e, como não visse alguem, tornou de corrida para a sala. No momento, porém, de subir a escada que ligava o jardim á casa, Balthazar Coutinho, que a espiava desde que ella sahiu da sala, chegou a uma das janellas sobre o jardim, bem longe de imaginar que a via. Retirou-se, e entrou com Thereza na sala, ao mesmo tempo, por diversas portas. Decorridos alguns minutos, a menina sahiu outra vez, e o primo tambem. Thereza ouviu, a distancia, o estrepito d’um cavallo, quando passou ao patamar da escada. Balthazar tambem o ouviu, e notou que sua prima, receosa de ser vista e conhecida pela alvura do vestido, levava uma capa ou chaile que a envolvia toda. O de Castro-d’Aire fez pé atraz para não ser visto. Thereza, porém, n’um relance de olhar temeroso, ainda víra um vulto retirar-se. Teve mêdo, e retrocedeu a largar a capa, e entrou na sala, offegante de cansaço e pallida de mêdo.

— Que tens, minha filha? — disse-lhe o pae — Já duas vezes sahisteda sala, e vens tão alvoroçada! Tens algum incommodo, Thereza?

— Tenho uma dôr: preciso de ir respirar de vez em quando... Nada é, meu pae.