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criados d’um fidalgo de Gastro-d’Aire. Ninguem, porém, ouvira imputar o assassinio a determinadas pessoas.

Na tarde d’esse dia recebeu Simão a seguinte carta de Thereza:

«Deus permitia que tenhas chegado sem perigo a casa d’essa boa gente. Eu não sei o que se passa, mas ha coisa mysteriosa que eu não posso adivinhar. Meu pae tem estado toda a manhã fechado com o primo, e a mim não me deixa sahir do quarto. Mandou-me tirar o tinteiro; mas eu felizmente estava prevenida com outro. Nossa Senhora quiz que a pobre viesse pedir esmola debaixo da janella do meu quarto; senão eu nem tinha modo de lhe dar signal para ella esperar esta carta. Não sei o que ella me disse. Fallou-me em criados mortos; mas eu não pude entender... Tua mana Rita está-me acenando por traz dos vidros do teu quarto...

Disse-me tua mana que os moços de meu primo tinham apparecido mortos perto da estrada. Agora já sei tudo. Estive para lhe dizer que tu ahi estás; mas não me deram tempo. Meu pae de hora a hora dá passeios no corredor, e solta uns ais muito altos.

Ó meu querido Simão, que será feito de ti?... Estarás tu ferido? Serei eu a causa da tua morte?

Diz-me o que souberes. Eu já não peço a Deus senão a tua vida. Foge d’esses sitios; vai para Coimbra, e espera que o tempo melhore a nossa situação.