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Página:Ao correr da pena.djvu/277

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Rio, 6 de maio

Ontem, por volta de nove horas do dia, saí de casa com tenção de visitar o novo estabelecimento óptico do Reis, à Rua do Hospício nº. 71.

Tinham-se feito tantos elogios deste armazém, do seu arranjo e elegância, que assentei de julga-lo pelos meus próprios olhos.

Não foi, porém, esta a única razão que excitou a minha curiosidade. O que principalmente me levava àquela casa era um sentimento egoísta, um desejo de míope.

Les yeux sont les fenêtres de l'âme, diz Alfonse Karr num livrinho espirituoso que dedicou às mulheres

Ora, há muitas almas que têm a felicidade de poderem de manhã cedo abrirem as suas janelas de par em par, e se debruçarem nelas para espreitarem o que se passa diante do nariz.

Outras mais modestas, como as almas das mocinhas tímidas, abrem a meio as suas janelas, mas se escondem por detrás das gelosias que formam seus longos cílios de seda; e assim vêem tudo sem serem vistas

Algumas, porém, são tão felizes, que, quando abrem as suas janelas, vêem-se obrigadas a descerem imediatamente as empanadas. Estas são as almas dos míopes que usam de óculos fixos.