Andava pela Europa, o brejeiro! Como eu não posso ir, ele mete-me inveja, e leva o tempo a fazer-me figas.
Num minuto passeou pela Itália, viu Emmy la Grua aprontando-se para a sua viagem de além-mar, e depois entrou em Londres, e foi a Convent-Garden ver a Julienne Dejean, que representava a Norma.
Esta é uma moça encantadora, como dizem que é a linda italiana; não é uma Rosina faceira e graciosa como a Charton, é uma mulher talhada para as grandes paixões, para as comoções fortes e violentas.
Sua voz de soprano, ampla, sonora, de uma grande extensão e volume, dizem que tem esses acentos do desespero, esses gritos d'alma, que fazem estremecer como um choque elétrico, que fazem correr pelo corpo um calafrio de emoção.
É uma voz para o ciúme selvagem da Norma, para a vingança e para as paixões de Lucrecia Borgia, para a ambição de Macbeth, para todos esses dramas enfim em que os sentimentos trágicos atingem à sublimidade.
Entretanto esse mesmo timbre de voz torna-se doce, terno, sentimental quando a artista traduz o amor feliz e essas delicadas emoções do coração que se expande.
Por isso afirmam que ela não tem repertório; canta a música italiana de preferência; e executa qualquer ópera de soprano que lhe designem.
Com ela deve vir o tenor Tamberlik, que atualmente goza na Europa da reputação de um dos melhores cantores no seu gênero.
Foi isto que o meu pensamento viu em viagem e que me veio contar, tirando-me assim todas as minhas belas ilusões da noite.
Comecei a refletir sobre o destino das glórias deste mundo.
"Ainda esta noite, pensava eu, a Charton pisa a nossa cena lírica como rainha e como soberana. Algumas reminiscências que nos deixou a Stoltz já estão apagadas. Brilha num céu sem nuvens como o astro das nossas noites, murmura ao ouvido como o eco das harpas eólicas, surge no meio de uma auréola de luz como o anjo da harmonia.
"Daqui a um mês,