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Página:As Caçadas de Pedrinho (1ª edição).pdf/29

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a onça, que era a rainha da floresta, o mesmo farão, com a maior facilidade, a qualquer outro animal menos forte do que a onça. Estamos pois com as nossas vidas ameaçadas de grande perigo e temos de tomar providencias. Por isso quero convocar uma reunião de todos os animais. Vocês, que voam, sejam meus mensageiros. Voem sobre a mata, e avisem a todos para que estejam aqui reunidos amanhã á noitinha, debaixo da Figueira Brava.

O gavião e os bentevis obedeceram. Voaram de arvore em arvore dando uns pios que significavam reunião geral na Figueira Brava, no dia seguinte.

Essa figueira parecia ter mil anos de idade. Era a maior arvore da zona. Em seu tronco o tempo abrira um enorme ôco, no qual dez homens poderiam abrigar-se perfeitamente. Herva nenhuma crescia debaixo dela, porque as hervas não crescem onde não bate sol e ali havia seculos que não batia um raio de sol.

No dia seguinte á tarde os animais foram-se chegando. Vieram as pacas, tão medrosinhas; vieram os veados ariscos; as antas pesadonas; os coatís sempre alegres e brincalhões; os cachorros do mato e as iráras de olhar duro; as jaguatiricas de movimentos macios. Vieram os tatús encapotados em suas cascas rijas; as lontras embrulhadas em suas capas de pele macia como o veludo; as preás assustadinhas. Tambem vieram cobras — as giboias enormes que engolem um bezerro taludo; as cascaveis de guizos na ponta da cauda; as lindas corais vermelhas; as mussuranas que se alimentam de cobras venenosas

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