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Página:As Caçadas de Pedrinho (1ª edição).pdf/37

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— E’ guerra e das boas. Não vái escapar ninguem — nem tia Nastacia, que tem carne preta. As onças estão preparando as goélas para devorar todos os bipedes do sitio, exceto os de pena.

O marquês de Rabicó sorriu. Se as onças iam devorar todos os bipedes, ele, na sua nobre qualidade de quadrupede, estaria fóra da matança. Que felicidade ser quadrupede! pensou lá consigo.

Pedrinho começou a estudar a defesa.

— Sabem do que mais? disse ele. Vou abrir uma linha de trincheiras em redor da casa.

— Inutil, isso, Pedrinho, objetou a menina. As onças são umas danadas para saltar. Pulam qualquer trincheira.

Pedrinho achou razoavel a observação e refletiu um pouco mais. Depois disse:

— Nesse caso, poderemos rodear a fazenda duma cerca de paus a pique, bem pontudos. Construir uma estacada, como as usavam os indios.

— Impossivel, objetou outra vez Narizinho. Para fazer semelhante estacada teriamos de contratar varios homens para cortar os paus e finca-los — e vóvó desconfiaria e viria a saber de tudo. Com estacada não vái. Temos de descobrir outro caminho.

E voltando-se para o visconde; que ainda não pronunciara uma só palavra:

— Qual a sua opinião, visconde?

Como tivesse corpo de sabugo, o visconde jamais mostrou o menor medo de onça, ou de qualquer outro animal carnivoro. Medo só tinha de vaca, bezerro,

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