Página:As Minas de Prata (Volume I).djvu/148

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uma lei essencial de toda a associação, ainda mesmo efêmera. Reuni duas criaturas; uma obedece infalivelmente à outra; senão, brigam ambas para saber qual terá a primazia. A república dos galopins, que se estabelecera provisoriamente com território no telhado da casa, não podia eximir-se à regra constitucional da sociedade: tinha um chefe, a quem obedecia.

Era este um caboclinho de doze a treze anos, a quem seus camaradas chamavam Martim. Não tinha ele coisa alguma saliente, que não fosse sua excessiva fealdade. Era realmente seu rosto o cunho de um desconcerto completo da fisionomia humana; o nariz usurpara o molde do queixo; a testa era cabeluda; o pescoço começava na boca; as orelhas comiam as bochechas; os olhos, como os do caranguejo, projetavam-se fora das órbitas, ou recolhiam-se dentro.

Qual fosse o título a que devia Martim o mando sobre seus camaradas, será difícil atinar. Não era ele o mais esperto, embora não lhe faltasse certa agudeza; não era o mais forte também; muitos dos que ali estavam obedecendo a seu aceno, tinham mais coragem e dupla robustez. Quanto à posição, a do bicho da taberna de mestre Brás era somenos à do estúpido