Página:As Minas de Prata (Volume I).djvu/28

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da natureza criada para a paixão.

Esse sentimento era a religião; todas as faculdades que outrora o amor absorvera, voltavam-se para a nova preocupação, e se entregavam a ela com igual ardor e afã: a mulher apaixonada e voluptuosa transformara-se na devota fanática; em face de Deus, como diante dos homens, foi sempre a mesma: foi o verbo das almas cujo destino na terra se resume em uma só palavra – amar – sublime encarnação do anjo feito mulher.

A moça que a acompanhava era sua imagem, mas perfumada pela mocidade, iluminada pelos raios da vida que desponta, colorida pelos reflexos de sangue tépido e puro que circula sob a cútis transparente, animada pela doce confiança que naquela idade abre os límpidos horizontes da existência e solta o voo à imaginação ávida.

O mesmo fogo da paixão, a mesma voluptuosidade do prazer, que deixara uma sombra de suas erupções no rosto envelhecido da mãe, brilhava nos olhos pretos e fúlgidos, no sorriso lânguido e no requebro gracioso da filha; mas a inocência e pureza d'alma vendavam ainda essas irradiações com a expressão modesta e ingênua, que as tornava mais perigosas.