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Página:As Minas de Prata (Volume I).djvu/44

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erguesse mais a vista, nem se voltasse de seu lado.

O moço era pobre e modesto; aqueles que como ele amaram um dia, compreenderão o martírio que sentiu pensando que D. Fernando de Ataíde, nobre e rico, podia depor aos pés de sua amada um belo nome e soberbas prendas, enquanto que ele apenas tinha um coração leal a oferecer.

A dama desconhecida e velada não tirava os olhos de Estácio, senão para volvê-los a Inesita. Por vezes inclinara-se para a gorducha de sua companheira, como se lhe quisesse falar e disfarçava; até que afinal a palavra retida escapou-lhe dos lábios:

— Sabeis, Brásia, quem seja aquele cavalheiro que agora ajoelha perto à grade, bem em frente a nós?...

— Vejo dois, D. Marina, tão gentil um como outro! De qual falais?

— Do que traja negro.

— Não sei, não, dona; mas não faltará quem o saiba.

— Pois indagai, e onde mora.

A velha estabeleceu logo um cochicho que percorreu toda a longa fila de beatas estendida pela nave da catedral.