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Página:As Minas de Prata (Volume I).djvu/73

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sabia que dos modestos lucros ele mandava dar uma pensão em Portugal à irmã que lhe servira de mãe, e o resto destinava para a publicação de sua obra, o maior serviço que podia prestar ao seu país.

Quando os rapazes que passavam para a escola, vendo-o que se dirigia para o Largo da Sé triste e cabisbaixo, o perseguiam com risos e galhofas gritando — vais? vais, Caminha? — mal pensavam que aquele homem que durante vinte anos, chovesse ou fizesse sol, ia todas as manhãs olhar o mar e o horizonte, não se iludia já com a esperança vã e ridícula de ver chegar o navio que trazia a Relação.

O que o levava lá era a saudade da pátria, a sublime nostalgia do velho que sente o corpo vergar para uma terra, que não é a sua, e em cujo seio talvez descansarão suas cinzas, entre gente estranha, longe do berço; o que ele ia ver não era nem o mar, nem os navios, era sim o horizonte imenso, no fundo do qual os olhos d'alma lhe mostravam o modesto painel de sua aldeia natal.

Que lhe importava que o mundo risse? As dores profundas e grandes se escondem nos refolhos do coração, aí vivem, aí morrem, sem que a compaixão pública as profane; só Deus lhes sabe o