Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/143

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Cristóvão arrependeu-se do que tinha feito.

— Perdoai-me, Elvira! respondeu ele com respeito. O muito que vos amo fez-me esquecer o muito que vos devo. Com a mente de falar-vos, e dizer-vos quanto sofri pela vossa ausência, não me lembrei que este asilo me era vedado; mas crede-me, que não entraria em templo, com recato maior do que entrei aqui.

A moça, presa dos lábios de seu amante, comovida de tanto amar, mal sabia o que fizesse; já não era o receio que a retinha, sim o pejo.

— Bem penso, continuou o moço, que errei; sede porém benigna para esse erro de que só fostes a causa. Trouxe o que por vós e para vós ganhei; e vou-me por onde vim, para que não vos deixe maior aflição da que levo em deixar-vos.

Dizendo isto, o moço deitou sobre o toucador uma bolsa que tirou do peito do gibão, e na qual brilhavam entre as malhas de seda as joias que tivera em preço dos jogos; após fitando um longo e ardente olhar na sua amada, foi para sair.

Elvira não se conteve mais; lançou pelo colo uma manta de seda e correu à janela, ao tempo em que o moço ia saltar o balcão.