Saltar para o conteúdo

Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/162

Wikisource, a biblioteca livre

se pode eximir de certo acanhamento e timidez falando a pessoas autorizadas.

— Tomou-me há tempos por seu confessor, disse ele, a Senhora D. Luísa de Paiva, viúva já idosa e muito conhecida nesta cidade pelo seu avultado cabedal. Faleceu-lhe o marido há seis anos deixando uma filha única, que está hoje moça. É senhora de muita virtude; mas tem ainda restos de sangue impuro...

— Ah! é de raça judaica! exclamou o P. Molina.

— Infelizmente assim é, respondeu o P. Figueira.

— Devem ter passado ao Brasil muitos desses cristãos-novos, depois de levantada a proibição? replicou o assistente pregando os olhos no teto.

— De feito não é pequeno o número dos que têm vindo.

— Para isso compraram tão caro o direito a El-Rei, que não soube o que vendia.

Os jesuítas tinham levantado a orelha, apenas o P. Molina fizera o primeiro movimento de surpresa, e acompanharam o curto diálogo com atenção disfarçada. Pareceu-lhes ter entrevisto o fim secreto da missão do assistente.