Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/56

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— Pede ao teu louro que te estique a pele, engelhada do demo!...

A causa dessa vozeria era uma velha mulher coberta de andrajos, que mostrava todas as aparências de mendiga; mas o povo a tinha em conta de feiticeira.

A sua fisionomia provocava a atenção por uma singularidade incompreensível; a fronte coroada de cabelos grisalhos e revoltos era surcada de rugas profundas que lhe sarjavam também as faces crestadas de nódoas e cosidas de cicatrizes; o nariz disforme tinha as vermelhas protuberâncias que revelam o longo uso da embriaguez. Entretanto nesse semblante decrépito e corroído pelos anos e pelo vício, os olhos e a boca estavam respirando mocidade. Ninguém pode fazer uma ideia do aspecto repulsivo que tinha essa pupila negra nadando em leite, e esse lábio rosado sorrindo sobre alvos dentes, no meio daquela horrenda máscara.

Fugindo diante dos apupos, deixando na mão dos rapazes os farrapos de seus andrajos, a mendiga acertou de encaminhar-se para o lugar onde praticavam mestre Bartolomeu e a adela:

— Não deis ouvidos ao que ela diz, mestre Bartolomeu, é uma má mulher! gritou a bruxa.