Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/170

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“Voltando à tona d’água, minha mão alcançou por proteção de Deus a corda de uma boia. O desespero restituiu-me alguma parte das forças, e com estas me volveram os espíritos. Bem recobrado da extrema fadiga, e livrando-me das roupas, ganhei a terra. Pisei-a com um grande contentamento, não só porque pensava não mais senti-la sob os meus pés, como porque a minha salvação, a devia a Deus unicamente.”

— Bem, filho! exclamou o velho. Razão tive eu de inquirir o vosso coração, para ainda mais louvar-me da nobreza dele!...

Estácio continuou:

— Meses decorridos, deu-me o acaso, que a visse outro breve instante. Foi em Nazaré, na casa que aí tem seu pai. Acertei de passar por lá em ocasião de estar ela regando seus craveiros na janela mais alta do torreão. Vinha meu caminho, sem me aperceber de nada, quando as gotas d’água que me borrifaram o chapéu, fizeram que desviasse para o meio da estrada e erguesse a vista. As gelosias estavam entreabertas; e seu rosto me apareceu entre os dois vasos de porcelana da Índia postos sobre o balcão. Também ela reclinara para ver; mas dando com os olhos em