Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/84

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ei-lo que de esmagado se ergue mais vigoroso, e vai coleando pelas ruas e praças da vasta cidade.

Quando Vilarzito voltou a si do arroubo em que ficara, a igreja estava deserta; volveu um olhar para a vela de promessa que ardia ainda, e apagou-a de um sopro.

— Quero ser pregador! Hei de sê-lo! murmurou.

Dois frades atravessaram pela nave; era um de exígua figura, minguada pela velhice, que já lhe acurvava a cabeça; a humildade evangélica estava em toda sua pessoa. Vilarzito não reconheceu, nem podia, naquela insignificante figura, o sublime pregador; os alumbramentos d'alma operavam nesse corpo mesquinho e encarquilhado uma transfiguração pasmosa e incrível. Era este o célebre pregador Fr. J. Corela, da Ordem dos Capuchinhos; florescera na Corte de Filipe II, e agora nos últimos dias da vida que devia extinguir-se com o século em 1599, os lumes que desferia a sua eloquência, eram raios ainda.

O outro frade tinha a mais bela estampa de homem, que ser podia. Velho também, mas de velhice robusta, o seu inverno era como primavera