Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/96

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desferiam raios entre a renda preta da mantilha que a vendava:

— Padre, fazei-me a esmola de ouvir de confissão a uma pobre pecadora! exclamou ela rojando-se aos pés do religioso e segurando-o pelo hábito.

O jesuíta voltou-se; no lugar onde estava, a réstia de luz batia em cheio sobre a sua cabeça, esclarecendo-a como um resplendor.

— Estais em pecado mortal? perguntou o religioso.

O som dessa voz penetrou o coração da moça, ao mesmo tempo que seus olhos erguendo-se cravaram no rosto do sacerdote. Ela soltou um grito de pavor:

— Meu marido!...

— Quem sois, mulher? interrogou o jesuíta recuando de espanto.

A devota ergueu-se de um ímpeto, atirando a mantilha para os ombros e descobrindo o formoso semblante. Os olhares de ambos cruzaram-se como dois dardos:

— Fui Dulce, hoje me chamam Marina de Peña, porque assim me fizestes! disse a moça