Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/104

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A essa hora matutina, rompiam as sombras pardacentas do crepúsculo, com passo ágil, Estácio e seu pajem. Iam eles já no alto de São Bento, quando o primeiro raio da manhã toucou a grimpa dos montes. O céu estava do mais puro azul, o sol, de ouro fino; o mar desdobrava-se aos pés da cidade como a túnica azul da sultana, que a despiu ao deitar-se sobre o divã de suas verdes montanhas.

Uma brisa fresca, saturada de suaves aromas, crepitava pelas palmas dos coqueiros, e coava sussurrante entre a espessa folhagem das jaqueiras em flor. De momento a momento troavam como salvas de canhão em distância, as ondas alterosas que arrebentavam nas areias ao longo da Praia da Vitória. As aves atitavam; e um pescador de Itaparica que madrugara, mandava uns ecos remotos de seu descante matutino.

Súbito atravessou esse concerto o grito vibrante da saracura que repercutiu ao longe. O mancebo não deu nenhuma atenção a esse incidente, muito natural naquelas paragens; se ele estivesse menos preocupado, havia de reparar por certo que o grito era mais forte e sustido do que a ave costuma.