Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/208

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a sua desventura; e ao menor rumor de fora estremecia cuidando ver assomar-lhe por diante a figura sangrenta e lívida de seu marido que viesse tomar possessão dela.

“Nisto ouviu passos cautelosos; o coração congelou-se; as pálpebras caíram desfalecidas.

“A porta se abrira silenciosamente; e à frouxa luz da lâmpada velada surgiu um vulto negro e sinistro. Mas caindo o manto no instante em que os olhos da senhora descerravam, reconheceu ela seu namorado. Grito de alegria travado de pavor, escapou-lhe do seio; sufocou-o nos lábios a mão rápida e prudente do cavalheiro:

“— Juraste ser minha, Violante.

“— E fui e sou tua! Mas roubaram-me a ti para dar a outrem!...

“— Tu me pertences na vida e na morte! respondeu o cavalheiro.

“O silêncio da noite sepultou no mesmo antro os gemidos da dor e os suspiros da ventura. No dia seguinte havia mais uma pecadora que não pudera, na frase do Cristo, atirar a pedra à mulher adúltera. Ela enterrara nessa noite fatal três coisas: sua virgindade de donzela, sua honra de esposa, e sua legitimidade de mãe.