— Tenha eu o papel em meu poder, é o essencial. Ao mais Deus proverá.
O frade pensava que a perfuração da parede serviria para subtrair o recibo, desde que o roteiro estivesse em suas mãos.
D. Diogo não estava em casa; já tinha saído para ir ao acompanhamento do governador, donde só recolheu à noite, depois da prática que se referiu. O frade desgostoso desse contratempo, mas não desanimado, recorreu ao meio extremo; subiu à água-furtada, e pôs mãos à obra, deixando a beata de vigia à rótula para o avisar da volta do fidalgo, logo que o avistasse no princípio da rua. Entretanto trabalhava com ardor extraordinário; faltava-lhe ainda muito para concluir o rombo; a tábua além de grossa devia ser delicadamente serrada a fim de não cair do lado oposto e chamar a atenção.
Nesse ponto do trabalho foi o visitador distraído pela beata que o chamava do patamar da escada. O provedor recolhia taciturno e sob o peso de graves pensamentos; quando o jesuíta saiu à porta, ainda vinha a vinte passos de distância, pelo lado oposto da rua. Deixando que se aproximasse foi-lhe direito o P. Gusmão: