Página:As Minas de Prata (Volume V).djvu/252

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O P. Molina sentiu o coração confranger-se diante daquelas ruínas deixadas pelo fogo de uma grande paixão. Fazendo ao companheiro um gesto para que o esperasse, foi saudar com bondade compassiva ao advogado, e o levou à biblioteca, onde o agasalhou como a hóspede bem-vindo. Vaz Caminha, embora cortês sempre, não podia contudo eximir-se a um certo desgosto na presença desse homem, a quem um instinto secreto de sua alma culpava indiretamente pelo mal sucedido a Estácio. Se o P. Molina não surgisse na Bahia, dando indícios de vir à busca das minas de prata, o mancebo não se apressaria em partir; e talvez a desgraça, que o perdera, fosse evitada.

Entretanto o advogado não tinha vindo ao convento, senão para ver o P. Molina, cuja chegada logo soubera, e dele colher alguma coisa a respeito de Estácio; aproveitou pois o ensejo que se apresentava tão favorável.

— Pena-me ver-vos neste estado, doutor, tão sucumbido. É a saúde do corpo ou do espírito que sofre?

— Ambas, P. Mestre; mas a maior enfermidade é a do coração. Desde que perdeu a esperança de tornar a ver mais neste mundo seu filho, minha alma vai-se desprendendo para