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O MARQUEZ DE RABICO´

— Não coma esse leitão, Pedrinho! E' Rabicó! gritou ella. Aquella diaba nos enganou e assou o coitadinho!...

O menino, apezar de duro para chorar, ficou com os olhos cheios d'agua, erguendo-se da mesa furioso com a preta.

Emilia, porém, pulou de alegria. Estava viuva! Podia finalmente casar com o visconde de Sabugosa ou outro figurão qualquer. Chegou a bater palmas, cantando o "Pirolito que bate bate," que era a sua "musica" predilecta.

Narizinho não poude supportar aquillo. Avançou contra ella como uma furia, pregando-lhe um peteléco.

— Vou mandar o doutor Caramujo fazer uma operação nesta malvada para botar dentro della o que está faltando!...

Dona Benta perguntou, muito admirada, que era que estava faltando a Emilia.

— Coração, vóvó. Pois não vê? Emilia não tem nem uma isca deste tamanhinho...

Quantas lagrimas perdidas! Rabicó não fôra assado, não! Na vespera do dia de Anno Bom, assim que percebeu as intenções da tia Nastacia, tratou de pôr-se ao fresco, sorrateiramente, de rabinho entre as pernas. Em caminho encontrou um leitão da sua idade, muito parecido com elle. Teve uma idéa.

— Porque não vae amanhã cedo ao terreiro de dona Benta? perguntou-lhe. Deixei lá tres aboboras quasi inteiras.

O coitadinho foi. Encontrou as aboboras, é verdade, e comeu-as, mas teve como sobremesa faca de ponta e forno.

Desse modo conseguiu o illustre marquez de Rabicó escapar á triste sina que lhe parecia reservada e passado o perigo voltou, muito lampeiro da vida, como se não soubesse de coisa nenhuma!...