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O MARQUEZ DE RABICO´

menta a sorte do coitadinho. Todos tratam mas é de cortar o seu pedaço e comel-o gulosamente, dizendo:

— Está delicioso!

E, ainda por cima, lambem os beiços, os malvados!...

Foi esse o triste destino daquella irmandade de sete leitões. Da irmandade inteira menos um, o Rabicó, assim chamado porque tinha só um toquinho de cauda. Rabicó salvou-se porque Narizinho costumava brincar com elle, acabando por crear-lhe amor.

— Fique sossegado que não deixo "ella" te assassinar, tinha-lhe dito a menina. "Ella", sem mais nada, queria dizer tia Nastacia.

Uma tarde Narizinho ouviu dona Benta dizer á preta:

— Amanhã, dia dos annos de Pedrinho, temos de dar um jantarzinho melhor. Ha ainda algum leitão no ponto?

— Só Rabicó, sinhá, mas esse Narizinho não quer que mate. E' o ai Jesus della.

— Sim, mas você dá um geito. Mata escondido, sabe? e piscou para a negra. As duas velhas eram damnadas para se entenderem!...

A menina, entretanto, ouvira a conversa, e foi correndo atraz do leitãozinho. Encontrou-o no pasto, fossando a terra como sempre — ron, ron, ron. Agarrou-o ao collo e disse-lhe ao ouvido:

— Vovó deu ordem a tia Nastacia para assassinar você amanhã. Mas eu não deixo, ouviu? Vou esconder você, bem escondido, num logar que só eu sei, até que o perigo passe.

E assim fez. Levou-o para o tal lugar que só ella sabia, amarrou-o pelo pé a uma arvore; depois trouxe-lhe varias espigas de milho, uma abobora e uma lata d'agua.

— Fique ahi bem quietinho. Nada de berreiros, senão tudo está perdido. Quando não houver mais perigo, volto para soltar você.

Chegada a hora de pegar o leitão, tia Nastacia revirou o sitio inteiro de pernas para o ar atraz delle. Procurou-o