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A religião? Um mysterioso sentimento, mixto de terror e de esperança, a symbolisação lugubre ou alegre de um poder que não temos e almejamos ter, o desconhecido avassallador, o equivoco, o medo, a perversidade...

O Rio, como todas as cidades nestes tempos de irreverencia, tem em cada rua um templo e em cada homem uma crença diversa.

Ao ler os grandes diarios, imagina a gente que está n’um pais essencialmente catholico, onde alguns mathematicos são positivistas. Entretanto, a cidade pullula de religiões. Basta parar em qualquer esquina, interrogar. A diversidade dos cultos espantar-vos-á. São swendeborgeanos, pagãos litterarios, physiolatras, defensores de dogmas exoticos, auctores de reformas da Vida, reveladores do Futuro, amantes do Diabo, bebedores de sangue, descendentes da rainha de Saba, judeus, schismaticos, espiritas, babalãos de Lagos, mulheres que respeitam o oceano, todos os cultos, todas as crenças, todas as forças do Susto. Quem atraves a calma do semblante lhes adivinhará as tragedias da alma? Quem no seu andar tranquillo de homens sem paixões irá descobrir os reveladores de ritos novos, os magicos, os nevropathas, os delirantes, os possuidos de Satanaz,