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Página:As asas de um anjo.djvu/152

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Escuso lembrar-lhe, Carolina, que ou por amor ou vaidade, procurei sempre adivinhar, para satisfazê-los, os seus menores desejos.

CAROLINA – Loucura! Não há nada que encha esse vácuo imenso que se chama o coração de uma mulher.

PINHEIRO – É exato, toda a minha fortuna se sumiu no abismo; restavam-me apenas cinco contos de réis, que não me pertenciam. Eram um legado que meu pai deixara como dote a uma menina órfã, sua afilhada. Esse dinheiro devia ser sagrado para mim por muitos motivos; devia respeitar nele a última vontade de meu pai, e a propriedade alheia; entretanto foi com ele que comprei aquela pulseira que lhe dei no último dia em que estive nesta casa.

CAROLINA – Ah! Aquela pedra só custou cinco contos?

PINHEIRO – Custou um roubo! A órfã me pede o seu dote para casar-se; e eu não o tenho para restituir-lhe.

CAROLINA – Então é impossível; não pense mais nisso.

PINHEIRO – Não é impossível se quiser, Carolina; faça um sacrifício, empreste-me essa joia, e juro-lhe que com o meu trabalho lhe pagarei o valor dela!...

CAROLINA (rindo.) – Ah! Ah! Ah!... É interessante!... Sr. Meneses! Helena! Sr. Araújo!... Ouçam esta! É original.