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Página:As asas de um anjo.djvu/158

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MENESES (apontando para a caixa.) – E quanto valerá hoje a tua alma?

CAROLINA – Não sei; o que entra aqui dentro é sagrado, não lhe toco, nem lhe olho; tenho medo da tentação. Só abro esta caixa à noite, quando me deito.

MENESES – Pois deixa dar-te um conselho: põe a tua alma a juro na — Caixa Econômica, — e esquece-te dela. Há de servir-te na velhice. Ou então diverte-te!...

CAROLINA – Não; vou dá-la.

ARAÚJO – A quem!

CAROLINA – A um homem que não me ama; e por causa do qual jurei que havia de ver todos os homens à meus pés, para vingar-me neles do desprezo de um. E sabem se cumpri o meu juramento!...

MENESES – É talvez isto, Carolina, que faz de tua vida um fenômeno, que eu estudo com toda a curiosidade. Tu és um desses flagelos, não faças caso da palavra; um desses flagelos que a Providência às vezes lança sobre a humanidade para puni-la dos seus erros. Começaste punindo teus pais que te instruíram, e te prendaram, mas não se lembraram da tua educação moral; leste muito romance, e nunca leste o teu coração. Puniste depois o Ribeiro que te seduziu, e o Pinheiro que te acabou de perder; ao primeiro que te roubou à tua família deixaste uma filha sem mãe; ao segundo que te enriqueceu empobreceste. Só me resta ver como te castigarás a ti mesma; se não me engano tu acabas de revelar-me. Espero pelo tempo. Vamos Araújo.