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Página:As asas de um anjo.djvu/166

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CAROLINA – Não me compreende, Luís. Vê esta caixa? Aqui tenho as economias da minha dissipação; guardei-as para um dia poder gozar um momento dessa existência doce e tranquila, que eu não conheço. Não sei enquanto importam; mas devem chegar para viver um ou dous anos na Tijuca, ou em Petrópolis. Venha comigo! Consinta que o ame! Logo que o aborrecer deixe-me! Assim ao menos quando começar para mim o desengano, quando de meus anos gastos na perdição só restar a velhice prematura, eu terei as recordações desses poucos dias de felicidade para encher o vácuo do passado!

LUÍS – Adeus, Carolina.

CAROLINA – Não me recuse!...

LUÍS – Eu lhe perdoo, porque ignora que isto que me propõe é uma infâmia! Nunca amou, Carolina, senão compreenderia que ninguém se avilta a ponto de aceitar esses sobejos de amor, esses restos de um luxo pago por tantos outros. Seus primeiros amantes, a quem arruinou, diriam que eu vivia da sua miséria.

CAROLINA – Oh! não!...

LUÍS – É inútil!

CAROLINA – Pois bem!... Antes de partir... porque sei que é esta a última vez que nos vemos... Luís... (Apresenta-lhe a fronte timidamente.)

LUÍS – O quê?...

CAROLINA – A sua lembrança!...