Página:As asas de um anjo.djvu/186

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vergonha! Mas fique certo que não há dinheiro no mundo que a pague. Todos os senhores que estendem a uma mulher a mão cheia de ouro; que depois de lhe matarem a alma cobrem o seu corpo de joias e de sedas para reanimar um cadáver, julgam-se muito generosos!... Não sabem que um dia essa mulher daria a sua vida para resgatar o bem perdido; e não o conseguiria!... Portanto não nos acusemos; o senhor perdeu a sua fortuna, eu perdi a minha felicidade; estamos quites. Se hoje sou uma mulher infame, não é o senhor que correspondeu para essa infâmia, que foi cúmplice dela, quem me pode condenar.

MENESES – Aproveite a lição, Sr. Pinheiro; e guarde a sua esmola. Quando tiver passado este primeiro momento de irritação há de reconhecer o que já lhe disse uma vez. Há criaturas neste mundo que se tornam instrumentos da vontade superior que governa o mundo. Não foi Carolina que o arruinou, que do moço rico fez um cocheiro de tílburi; foi sim a vaidade, a imprudência e o desregramento das paixões, sob a forma de uma moça. Incline-se pois diante da Providência; e respeite na mulher desgraçada a vítima do mesmo erro, e o agente de uma punição justa.

PINHEIRO – Sempre respeitei a desgraça, Sr. Meneses; e ainda agora mesmo, se ela precisa de mim... Já não sou rico, mas as economias do pobre ainda chegam para aliviar um sofrimento.

CAROLINA – Aceitei enquanto tinha que dar! Hoje, não vê... Sou uma sombra! Só peço aquilo à que os mortos tem direito... Que respeitem as suas cinzas!

PINHEIRO – Eu me retiro, Carolina; desculpe se a ofendi.