Página:As asas de um anjo.djvu/191

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CENA XI

LUÍS E CAROLINA.

LUÍS – Está sofrendo muito, Carolina?

CAROLINA – Muito!... Mas enquanto sinto a dor não penso... Não me lembro!...

LUÍS – Incomodam-lhe as recordações do passado?

CAROLINA – Envergonho-me do que sou, Luís! Creio que não há martírio como este a que me condenei. Agora é que entendo as palavras que me disse naquela noite...

LUÍS – Procure esquecer, Carolina...

CAROLINA – Não é possível! Seria preciso arrancar a alma deste corpo, e ainda assim ela se lembraria.

LUÍS – O tempo há de acalmar essa excitação.

CAROLINA – Duvido!... Se soubesse, Luís, que mistérios profundos encobre esta vida! Quem vê uma dessas mulheres, sempre alegre e risonha, vestida ricamente zombando de todos e de tudo, não adivinha o que se passa dentro daquele coração, não sabe que miséria se esconde sob essa aparência dourada!... É o desprezo do mundo, começando pelo desprezo de si mesma!... O vício a torna incapaz de qualquer afeição, até mesmo do egoísmo!...

LUÍS – Compreendo!