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D. FRANCISCO DE SÁ E MENESES

Se do passado e presente
O porvir se pode crer,
Ja não ha que pretender:
Ja não posso ser contente.

Que de tudo quanto quero
Chego a tam triste estremo
Que vejo tudo o que temo
E nem sombra do que espero.
Desengano-me da vida
E fiz nella tal mudança
Que até de ter esperança
Tenho a esperança perdida.

Cuidei um tempo que havia
Na fortuna o que buscava,
E postoque o não dava,
O mesmo tempo o daria.
Achei tudo diferente,
Fiquei desencaminhado,
E como em despovoado,
Ando perdido entre a gente.

De que farei fundamento
Pois em nada acho firmeza
E pago sempre em tristeza
Os sonhos do pensamento?
Abrande esta dôr crecida
Vivendo em pena de morte,
E eu, por não mudar a sorte,
Nem morro nem tenho vida.

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