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Página:Aventuras de Diofanes.djvu/233

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Fui ver o Templo de Vênus com os mais daquela casa, que todos os anos lhe iam fazer ofertas, onde admirei o primor da arquitetura. Ali concorria inumerável gente a fazer suas oferendas, e se queimavam sempre odoríferos aromas; usavam todos de tanta desenvoltura, que eu fugindo de vê-los me recolhia à casa, enquanto não fui para Argos, onde se haviam moderado muito os maus costumes. Poucos dias depois de haver chegado de Citéra, estando uma noite na pobre cama, a que me via reduzida, em uma casa sem luz, entraram duas pessoas daquela família, e acaso se chegaram para a parte onde eu estava, e inadvertidamente trataram certos negócios, que requeriam tanto segredo, que buscaram aquela hora para os comunicarem; mas os Céus, que a todos vêem, não quiseram que se retirassem com a certeza de não serem ouvidos; porque representado-lhes o medo, que entrava gente na casa, quiseram chegar-se mais para o canto, em que eu estava, e cairam, tropeçando em mim; e quando se certificaram de que havia sido ilusão o que se lhes representou, me perguntaram, se eu ouvira o que eles haviam tratado. Bem via eu que lhes seria duríssima a verdade; mas como sei que a todo o risco sempre se deve usar dela, que a mentira não se conserva,