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Página:Aventuras de Diofanes.djvu/235

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que eu lhes percebesse palavra alguma, até que em desunidos pareceres dizia um: Não, não há mais remédio, que tirar-lhe a vida. Respondia o outro: E muito violento, e faltam as forças, quando a cólera não ajuda. E se lhe respondia: Eu serei o executor, basta que o consintais. A que tornava o outro a replicar: não vos digo que o façais, mais dai-me tempo para retirar-me, e obrai o que quiserdes; mas vede que o sangue inocente algum dia há de acusar-vos. A estas palavras fiquei sem ouvir mais rumor algum, a cada instante esperava a morte, fechando os olhos; e abaixando a cabeça para os golpes, via com o maior horror o fim da minha tragédia, e ultimamente me resolvi a dizer: Onde estais, ó cegos, que para que nunca acerteis, as sombras vos escondem o alvo, que busca a vossa tirania? E já cansada de esperar-vos chamo: Aqui está quem não cometeu mais culpas para a vossa crueldade, que o nascer ditosa, para viver infeliz convosco: acabai de aliviar-me do mal imenso, que na vossa companhia padeço; e sacrificai uma vida inocente, oferecendo o meu sangue nos altares da vossa ferocidade. Ficaram ainda imóveis, e em tal silêncio, ou falando com tal