que fora para os estrangeiros a inocente causa de seus desatinos, caminhou depressa, tomando o acordo de se não separar da porta daquela casa, para onde Hemirena se havia recolhido; e perdendo de todo a pequena parte, que àquele tempo tinha de entendimento, ora tocava na flauta pastoril tão fortemente, que parecia querer perder o alento; ora cantava canções, com que, quando guardava os rebanhos, lhe dizia o seu amor; mas tudo correndo-lhe as lágrimas e era tal a força, com que cantava, que pela muita distância, em que se ouvia, ninguém crera que era uma só voz, se não visse, e o sucesso o não acreditara. Em o quinto dia de seu lacrimoso canto se calou, rendendo o alento nas mãos da morte, sem que até ali pessoa alguma pudesse dele conseguir o tirar-se daquele lugar, ou que deixasse aquele exercício, que a sua amante loucura havia empreendido; pois não crendo na ausência de Hemirena, dizia que a escondiam, e queria que onde quer que ela estava ouvisse que ele se não esquecia, nem queria mais descanso, que em buscar a sua compaixão a qual esperava que a obrigasse a falar-lhe: e isto mesmo respondia cantando, porque nem perdesse aquele tempo.
Hemirena, que logo havia partido para Atenas,