homens naturalmente são mudáveis nos desejos, vários nos pensamentos, inconstantes nos propósitos, e nos fins indeterminados; pelo que sendo fácil entendê-los, é difícil o conhecê-los; e os que correm Mundo, lamentando descuidos de sua fortuna, se vivem de si descontentes, como poderão ser constantes em contentar os estranhos, pois não suspiram mais, que serem restituídos com honra ao seu país; porque a fortuna é mais cruel com aquele, que não deixa gozar o que tem, que com o que não tem que lhe pede: mereça-vos enfim a compaixão de um desgraçado, que o não façais reduzir aos erros, que costumam introduzir-se nas Cortes, onde as notícias ordinariamente são falsas, as amizades fingidas, sem termo as vaidades, as esperanças enganadoras, e as invejas contínuas; os que mais se visitam, pior se tratam; os que melhor se falam, pior se querem; buscam-se os que fogem, e menos que se paga a quem melhor serve; mas não obstante estes erros da Corte, são maiores os que devem obrigar-vos a buscar quem vos governe; porque não há superior, não há lei, sem esta não há justiça; se não há justiça, não há paz; e onde não há paz, tudo é guerra, e desordem: a autoridade, o poder, e a grandeza do Soberano é a escola de bons exercícios, e é centro de vícios
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