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MONTEIRO LOBATO

Desde esse momento Hans gozou de mais folga na taba; ia á caça com os indios e ajudava-os nos trabalhos de roça.

— Os selvagens, afinal de contas, não passavam de uns coitados, disse Narizinho. Hans embaçou-os de uma vez.

— E' que possuiam um grau de inteligencia muito inferior ao dos brancos. Daí a facilidade com que os peros e os espanhois, em muito menos numero, conseguiram dominá-los. Neste caso de Hans, por exemplo, assistimos á luta da inteligencia contra a bruteza. A inteligencia, com suas manhas e artimanhas, acabou vencendo a força bronca do numero.


XVII

O CARIJÓ DOENTE


HAVIA na taba um prisioneiro carijó que houvera sido escravo dos portugueses e fôra apanhado pelos tupinambás numa das expedições contra S. Vicente. Esse carijó detestava Hans Staden e vivia dizendo que fôra ele quem matara o pai de Nhae-pepô com um tiro.

Era falso. O carijó estava ali na taba já tres anos e Hans só tinha um ano de estada no Brasil: não podia o indio, portanto, tê-lo conhecido na Bertioga, como afirmava.

Um dia, em que esse escravo caiu muito doente, Ipirú-guassú, seu dono, chamou Hans para curá-lo.