Página:Aventuras de Hans Staden (6ª edição).pdf/110

Wikisource, a biblioteca livre
104
MONTEIRO LOBATO

Ia começar a festa. O chefe ordenara que cada qual levasse o seu prisioneiro para um sitio limpo, adequado ás dansas.

Feito isso, principiaram as cerimonias. Os prisioneiros foram obrigados a cantar e chocalhar os maracás, enquanto os indios dansavam em redor deles. Em certo momento adiantou-se um dos prisioneiros tupiniquins e falou com arrogancia, de cabeça erguida:

— "Sim, saímos como costumam fazer os bravos, para matar e comer nossos inimigos. Fomos vencidos e aprisionados, mas pouco importa. Os valentes morrem em terra inimiga. Nossa nação é poderosa e ha de vingar-nos!"

— Bravo! exclamou Pedrinho. Assim é que um homem deve morrer. E os tupinambás ?

— Os tupinambás responderam: "Sim, nós tambem nos vingamos, nós tambem vamos agora vingar os muitos irmãos que nos matastes".

Concluidas as dansas e as falas heroicas, cada qual levou consigo o seu prisioneiro.

Tres dias depois a expedição prosseguiu na viagem de volta. Boa que fôra a caçada, davam por conclusa a guerra. Os ubatubanos haviam capturado oito indigenas e tres mamelucos, além dos dois que levavam assados.

Logo que os guerreiros-caçadores chegaram a Ubatuba, Hans lembrou-lhes a promessa feita antes da partida, de o levarem a bordo do navio francês, ancorado em Iteron.

Os indios responderam que sim, que iriam levá-lo; mas primeiro queriam descansar e comer o "moquem", isto é, a carne dos mamelucos trazida já assada.