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MONTEIRO LOBATO

suportou a escravidão. Preferia a morte, e se não fosse a ganancia dos brancos, quer portugueses, quer espanhois, ganancia que os levou a insistir na escravização dos indios, não teria havido nas Americas os horrores que houve.

Duarte Coelho pediu ao capitão Penteado que o ajudasse naqueles apertos, indo com os seus homens guarnecer uma colonia de nome Iguarassú [1], naquele momento sitiada pelos indios. Essa colonia ficava a umas cinco milhas de Olinda.

O capitão reuniu em um bote quarenta marinheiros e mandou remar para Iguarassú, situada num braço de mar que avançava terra a dentro.

Lá encontraram noventa portugueses e uns trinta e tantos escravos, entre pretos e indios. Esta guarnição estava sitiada por selvagens avaliados em oito mil.

— Oito mil, vovó? Que horror! disse Pedrinho. Um exercito !...

— "Avaliados" em oito mil, meu filho. As avaliações dos interessados sempre eram para mais. O compadre Teodoro, nosso vizinho, sempre avaliou o seu sitio em setenta alqueires. Veio o agrimensor, mediu e achou trinta...

A praça de Iguarassú era defendida apenas por uma estacada de madeira, que a fechava de todos os lados. Para além da estacada estendia-se a floresta, na qual os indios construiram dois redutos, feitos de grossos troncos; ao pé desses redutos abriram trincheiras, nas quais passavam o dia, só saindo para guerrilhar.

  1. Canoa Grande