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AVENTURAS DE HANS STADEN
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Volta pessima. Como não tinham podido tomar provisões na Paraiba, o mantimento veio a escassear, e de tal forma que passaram fome, sendo obrigados a comer um carregamento de couro de cabrito que traziam a bordo. Cada tripulante recebia apenas a ração diaria de um copo d'agua e um punhado de farinha. Esse horror durou cento e oito dias, até que alcançaram as ilhas dos Açores, tambem pertencentes ao rei de Portugal.

Certo dia, em que estavam á pesca, viram ao longe um navio suspeito. Incontinenti dirigiram-se para ele, afim de verificar se era amigo ou inimigo. Era inimigo e os portugueses voaram-lhe em cima.

Como o navio não se achasse em condições de resistir, os seus tripulantes fugiram todos para terra. Penteado apossou-se do barco sem luta, e fez otimo negocio, tanta farinha e vinho encontrou nos porões.

Foi um regalo. Os vencedores tiraram a barriga da miseria, comendo e bebendo pelo resto do ano.

— Que boa vida! exclamou o menino. Bem diz vóvó que a historia da humanidade é uma pirataria sem fim...

— Infelizmente é verdade, meu filho. Com este ou aquele disfarce de pretexto, o mais forte tem sempre razão e vai pilhando o mais fraco.

— E' a fabula do lobo e do cordeiro... lembrou a menina.

— Qual, cordeiro! protestou Pedrinho. E' a fabula do lobo forte e do lobo fraco.

— Bem pensado ! disse dona Benta. Essa fabula não foi escrita por Esopo, nem La Fontaine, mas devia ser a